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sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

Drummond


A Bibi me achou triste e, bonitinha, se preocupou comigo.
Junto com a preocupação veio a poesia, muito linda, abaixo:


" (...) Tenho a vocação para a felicidade.


Ser feliz não me traz sentimento de culpa.

Não preciso da tristeza para justificar a inutilidade da vida.

Não preciso morrer e ir ao céu para encontrar a felicidade.

Quero-a e tenho-a neste espaço terreno do aqui e do agora.

A felicidade, tal e qual o amor, está dentro de mim

E transborda em ternuras, em melodias,

em carinhos, em alegrias, em cantos e encantos.

Sou feliz e não preciso me justificar.

Sorrio sem ver passarinho verde.

Não tenho medo de ser feliz.

Faço minha estrela brilhar.

Sem receio dos encontros, desencontros,

encantos e desencantos que o amor me diz.

Contrariedades? Eu as tenho.

E quem não as tem na vida secular ?

Escassez de dinheiro? Nem é bom falar

Amores não correspondidos? Separações?

Rejeições? Saudades incuráveis?

Carinhos reprimidos, ternuras guardadas,

sem a contra parte do outro?

Eu tenho aos montões.

Sou a rainha das perdas, necessárias ao meu crescimento.

Contudo quem não soube a sombra não sabe a luz.

E num livro de matemática existencial

juntei todos esses problemas insolúveis,

com as respostas nas últimas páginas.

Mas pra que me debruçar

sobre eles, procurando a solução

se a própria vida me conduz

a resposta final?

Sem medo de ser feliz vou por aqui e por ali

por onde os caminhos, as trilhas,

Os atalhos me levarem, traçando meu rumo.

Às vezes com alguma tristeza,

mas quem disse que felicidade

é o contrário de tristeza?

Tristeza é só uma momentânea falta de alegria!

É, amigo, amanhã é sempre um novo dia

E quando a infelicidade passar por aqui,

minhas malas estarão prontas

para eu ir por ali.

(C. Drummond de Andrade. )
 
 
 
Grande Drummond...
Obrigada, Bibi


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