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quinta-feira, 8 de abril de 2010

Circulante de sala: Ser ou não ser? Eis a questão!


Nos entristece demais ouvir um cirurgião dizer: ”não preciso de circulante!” Frases como esta demonstram que muitos médicos ignoram o nosso papel. Quando alguns cirurgiões ainda estão na cama nós já entramos em ação há muito tempo. Preparamos os materiais, montamos as salas (procurando atender até mesmo as manias de alguns cirurgiões), testamos equipamentos e até fazemos limpeza. Durante as operações temos que atender sozinhos a um monte de gente de uma vez só. Quando a cirurgia acaba temos uma montanha de papeis para preencher, peças para encaminhar, sala para desmontar, instrumental para levar ao CME, mais limpeza para fazer. Tudo isso correndo, sozinhos, pois outro doente está esperando para ocupar a sala.
Alguns médicos não dão a mínima importância ao fato de sermos pessoas como eles, com outro emprego, problemas, família e tudo mais. Esquecem que fazemos parte de uma equipe, de um time em que cada um tem que jogar na sua posição e cujo resultado do trabalho depende do bom desempenho do outro.
Alguns dos nossos colegas não nos ajudam em nada, tirando das salas que montamos materiais que muitas vezes foram encontrados depois de muita correria e dificuldades, sem nem mesmo nos avisar.
É duro quando fazemos o possível e o impossível para atender a todos, com todas as limitações de material que temos e no final ouvimos que estamos com má-vontade. Ninguém gosta quando um equipamento para de funcionar, quando falta uma pinça na caixa, quando não temos roupa, etc., muito menos nós.
Nossa responsabilidade é enorme, antes, durante e depois de cada cirurgia. Continuamos trabalhando mesmo depois que todos os médicos e até os pacientes já foram embora. Não temos quem nos substitua para irmos ao banheiro, para comermos, para atender ao telefone. Não podemos passar mal, ter um filho doente. Temos que vigiar para que os inexperientes sejam médicos ou não, não atrapalhem os nossos trabalhos, contaminando tudo, estando onde não deveriam estar. Temos que agüentar calados os gritos dos mais exaltados quando saímos para buscar algo que disseram que não iam precisa ou quando alguma coisa na cirurgia não sai  como era programado.
Mas não é só de queixas a vida de um circulante. Algumas equipes nos tratam com muito respeito, carinho e educação. Algumas pessoas que trabalham conosco estão sempre sorrindo, provavelmente porque gostam do que fazem e trabalham com amor. Como é bom ter o nosso trabalho reconhecido, ser cumprimentado na rua, ouvir um obrigado no final da cirurgia. Como é bom não precisar chamar a enfermeira. É legal quando lembram do nosso aniversário, do dia da enfermagem, do Natal, do Ano Novo, etc... Como é bom quando nos traram como companheiros de trabalho e não como empregados. Como é bom ser chamados pelo nome e não de “sala” como se fizéssemos parte do mobiliário. Como é bom trabalhar com as boas instrumentadoras que fazem o trabalho delas direito colaborando com o nosso e não criando mais problemas pra gente. Como é bom ser circulante! 


Esse texto é um dos que escrevi no tempo em que trabalhei em sala de operações.
Foram 22 anos, dos quais eu sinto uma saudade imensa!


Um comentário:

  1. Oi, mesmo com algumas decepções que um circulante passa, eu quero ser uma circulante terminei o auxiliar e estou lutando por um lugar no cc no hospital que trabalho eu amo esta profissão, pois sou uma aux. de hig. hospitalar e adorei ler este texto e isto não me desanima e sim me enche de coragem

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