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quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Carnaval e cinzas

Mais uma vez chegou a quarta-feira de cinzas.
Quarta-feira ingrata, dizem alguns.


Pra mim é um dia triste.
Triste por que amanhã eu tenho que trabalhar de novo.
Triste por que terei 40 pacientes pra atender e a Ana está de folga.
Triste por que o calor não passa, parece que só aumenta.
Triste por que acabou o carnaval.

Eu tenho poucas memórias da minha vida. Esqueci um monte de coisas.
Mas acho que sempre amei o carnaval.
Esse clima irreverente, alegre, festivo, colorido.
Pelo menos é desse tipo de carnaval que eu me lembro.
A gente colocava cadeiras na calçada e ficava lá, vendo os blocos passarem.
Até a Viradouro, que hoje é uma grande escola de samba, era apenas um bloco. Tinha também o Xavantes, lembro bem daqueles índios enormes, cheios de penas nas fantasias. 
Havia palhaços, pierrôs, bailarinas, havaianas, melindrosas, piratas, colombinas...


Todo ano tinha fantasia, por mais simples que fossem.
Mamãe sempre dava um jeito de deixar a gente nos trinques. Foram havaianas e índias de todo tipo. Até Lica era índia, loirinha e de olhos verdes, como uma boneca, mas índia, com cocar e tudo!
Tempo bom!
 Os desfiles de fantasia no Tamoio e eu lá, de recepcionista. Vi um monte de gente famosa na época, assisti muito desfile de fantasias de luxo, originalidade. Wilsa Carla, Clovis Bornai, Elói Machado, Evandro de Castro Lima e tantos outros.



Depois vinham os bailes de carnaval. De sexta até terça, todas as tardes e noites na folia.
Muito bom...
Tinha ornamentação do ginásio do clube, cada ano com um tema diferente.
Bandas tocavam ao vivo as marchinhas tão queridas da minha infância e adolecência: "Alalaôoooooo, mas que calor ôooooo...", "Chiquita bacana lá da martinica, se veste com uma casca de banana nanica....", "Tanto riso, oh! quanta alegria, mais de mil palhaços no salão...", "Colombina onde vai você, eu vou dançar o ieieie...". 
Como eu gostaria de voltar no tempo!
Começar tudo de novo, aproveitar tudo de novo.


Depois vinham os bailes noturnos. Tudo parecido com as matinês, só que tinha as paqueras, os beijos roubados. Figurinos mais elaborados pra poder ser notada pelos meninos...hehehehe. Não tinha a malícia de hoje, não era permitido sair beijando qualquer um e todo mundo como agora. Mas era bom, muito bom daquele jeito.

E teve a escola de samba. Os ensaios na quadra da escola.
Nos ensaios era ótimo, dia do desfile foi maravilhoso.
A fantasia era linda. Mamãe bordou tudo. Apenas o costeiro foi feito por uma criatura de sexo indefinido que queria ser a estrela do carro alegórico e mudou tudo pra ver se ficava menos ruim pra ela...
Posso me lembrar como se fosse hoje. Era o primeiro ano do sambódromo.
Eu viria no carro abre-alas.
Dava muito medo, subir naquelas empilhadeiras que nos levavam até o alto do carro, caminhar pela passarela estreitinha. Por mim eu viria no chão, mas o presidente da escola era namorado da minha amiga e queria que ela viesse no carro e eu acabei indo junto.
Todas queriam ficar nas extremidades do carro, onde a gente ficava pertinho do público, dos camarotes.
Eu queria apenas chegar em algum lugar seguro, onde pudesse me apoiar em alguma coisa. Andar ali em cima com aquele saltão, com tudo balançando sob os pés, dava muito medo.
O chefe da coisa toda, que ficava distribuindo os lugares do pessoal nos carros me mandou ir mais pra ponta. Mais, mais, mais.... até que fiquei lá do lado oposto, na pontinha tão disputada pelas "bonecas"...
Como eu me diverti!
Foi uma noite de glória. Eu consegui esquecer da altura e sambar, cantar e ainda chamar o pessoal das arquibancadas e camarotes pra cantar e dançar junto.
Foi bom pra caramba.
Depois teve o desfile da apoteose. Nesse dia choveu uma barbaridade.
Cheguei em casa completamente rosa, colorida pela tinta que saiu das plumas do meu costeiro.

 

Colorida, cansada, exausta mesmo, mas feliz!

Há coisas que a gente faz na vida e não aproveita tanto quanto deveria, por que não imagina que nunca mais acontecerão novamente.
O carnaval é uma delas.

Em um momento que é difícil de precisar, você deixa de gostar, fica incomodada com a multidão, com o barulho, tem medo de assalto, de briga.
A gente muda por dentro.
Incrível ainda é ver como a gente muda por fora também. O corpinho não permite mais certas exibições.

Não sei mais sambar, não gosto de suar, exibir o corpo nem pensar.
Meu tempo passou, como tudo nessa vida passa.

Um comentário:

  1. Me disseram que essa foto tinha a ver com o Chacrinha! hahaahahah

    beijooooo

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